sexta-feira, 18 de março de 2011

A VERSÃO DELA

O transe pode ter acabado, mas não os momentos apaixonantes, estes estavam apenas começando.
Ela tinha razão, o destino havia agido de modo correto, não seria possível – os dois juntos – tanto tempo, todos os dias. Nada acontece por acaso, não resistiriam.
Mas o destino tem dessas coisas, é como tem que ser... dá voltas e nos leva pro lugar que era nosso, desde a primeira escolha. Assim, os levou pra perto, um do outro.
Dizer quando tudo começou é uma tentativa inútil.
Afinidade sempre existiu, desde o primeiro contato, mas eles nem imaginavam o que aconteceria anos depois. Cada um cursou o rumo que seus planos permitiram e lá na frente... sabe a palavra mágica - reciprocidade – se fez presente, em palavras escritas ou faladas, nos menores gestos.
Ainda assim eram apenas bons amigos. Mas o destino, se é que assim que podemos chamar essa força que move, que impulsiona, que faz tudo girar, nos coloca a prova todos os dias. Você pode até fugir dele, mas ele vai ao seu encalço e mexe com tudo que tem de mais inteligente e mais equilibrado dentro de nós.
Eles não programaram nada, mas tudo era recíproco.
Um pouco de conversa, uma permissão maior pra dizer um pouquinho daquilo que sentiam, foi suficiente para que aquelas palavras que antes eram jogadas ao ar, se encaixassem e trouxessem uma oportunidade pra eles. Era só isto que eles precisavam: uma oportunidade... e ela veio.
Mais uma vez o destino? O acaso? Não, simplesmente era pra ser assim.
Tudo foi como tinha que ser: o cheiro, o contato, o esvoaçar dos cabelos, os passos, o balançar dos corpos... a música. “Ta vendo aquela lua que brilha lá no céu. Se você me pedir eu vou buscar só pra te dar”. Ela cantava pra demonstrar o quanto o impossível se faz possível quando se deseja realmente algo. A negativa foi apenas mais um, entre tantos outros tiros certeiros... tudo se encaixava.

Ela sabia que ele queria, estava no olhar, no gesto de carinho. Ela sabia, mas precisava deixar ser espontâneo, pra que nada estragasse aquele momento especial.
Se ele se encheu de si mesmo, como quem anda plenamente por uma selva, sem se importar com os animais perigosos... Ela sentiu-se cortejada. Mas em alguns momentos uma dúvida lhe assombrava: Será? Será que ele quer? A dúvida se foi quando o transe chegou.


Ela sabia e agia de modo sutil e feroz só pra que ele pedisse arrego. Mas ele mantinha-se firme e ela queria tanto... e ele se contendo. Isto fez parte do jogo, de tudo o que tinha que ser.
Após o transe, nada mais foi igual. E aquilo era só o começo.
Olhando lá pra trás, ela nunca sentiu-se tão segura de si, nunca investiu desta maneira. Foi um investimento descontraído, descompassado, sem grandes pretensões.
Muitas foram as músicas que traduziam o que eles sentiam, frases populares, contemporâneas ou antigas. Cada música uma frase, cada frase um significado e em todo significado... reciprocidade. Ela sabia o que ele queria e ele sabia o que ela queria. Estava nos olhos de cada um, que por pouco tempo se fixavam. O olhar dele fugia do dela, mas o dela ia a sua busca.
O olhar dela buscava onde tudo começou e porque tudo começou ou então porque tudo iria começar?
O olhar dela tinha brilho sim, mas era um brilho irradiado de uma luz que vinha de outrem. O olhar brilhava de alegria, porque mesmo que tudo acabasse ali, que tudo parasse naquele momento, já teria valido.
Mas o destino, ah o destino, não ia permitir que tudo parasse ali, eles ainda fitaram, desejaram, em transe ou fora dele, estava tudo estampado.
Ah se ele soubesse como ela se deliciou com tudo aquilo. Nunca tinha vivido algo tão encantador. Nada de extraordinário aconteceu, mas encantamento tem dessas coisas, está na simplicidade, naquilo que é singelo.
Não há duvidas, o plano está traçado!
Adriana ToRRe

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