sábado, 19 de março de 2011

A SEMANA INTEIRA FIQUEI ESPERANDO!

Só pra te ver sorrindo. Só pra me fazer sorrir. Foi assim a semana toda.
Não havia programação, apenas o desejo intenso, imenso.
Eles perderam a noção das horas, dos dias, de tudo o que antes haviam planejado sobre como se comportariam.
Bastava um sinal e eles já sabiam como seria. Ela o esperava juntamente com a sua força. Ele chegava com seu álibi.
Alguns minutos para tudo se encaixar e a explosão era intensa. Música, filme, conversa, constatação.
Certa noite ele a fez chorar. A causa foi diferente de tudo que ela já vivera.
Ela tentou entender, explicar... Refletiu sobre as sensações, mas encontrou um único meio de expô-las, apossou-se das palavras de Eça de Queiroz: sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase,e a alma se cobria de um luxo, radioso de sensações”.
Ele não entendeu, mas convenceu-se da grandiosidade do momento. Nada antes havia sido igual. Tudo depois seria diferente.
A semana findou e o pesar que lhes pairava sobre os ombros vai se dissolvendo à medida que a nova semana chega e chega inteiramente intensa e emocionante, como tudo que lhes é peculiar.
Adriana ToRRe

DECIDIRAM AVENTURAR-SE

Ela pensou em todas as coisas que vivera nas últimas horas.
A estrada foi sua companheira e a distância seu tormento.
Tentou se lembrar de cada detalhe.
Havia dormido um pouco antes da chegada dele. Mas o sinal de que estava próximo, a fez tremer. Correu, preparou-se, ficou pronta pra ele.
Vê-lo surgir alegrou-lhe a alma. Eles eram um pro outro.
Conversaram, passearam, paqueraram, fizeram o que estava programado, a causa inicial de tudo aquilo.
Mas tudo sempre parece pouco quando eles estão juntos e na mesma medida o pouco ou o nada lhes é tudo.
Decidiram aventurar-se.
Novamente música, luzes, dança, gente. Os corpos balançavam, o flerte era fácil, ali tudo era possível.
Recordações.
Seus corpos se entrelaçaram, giraram. Seus lábios sorriam.
E a qualquer momento salvavam-se das circunstancias alheias que aquele lugar proporcionava.
Salvaram-se todas as vezes quanto necessárias. Salvaram-se com beijos ardentes, olhares profundos, desejo intenso, pele e pelos aflorados.
Nada do que acontecia ali poderia tocá-los, salvos pelas promessas antes feitas.
Paquera, flerte, namoro, envolvimento, fizeram tudo e ao final amaram-se.
Ao final? Não. Era só mais um começo. Todo encontro era um começo.
Exaustos pela euforia das horas compartilhadas, tornaram-se um e colados dormiram finalmente.
Ah se ela soubesse... Ela sabia.
Ah se ele soubesse... Ele sabia.
Tudo era intenso, dormir e acordar. E ao acordarem sorriram.
Eles são assim... felizes.
Café da manhã, música, conversa, despedida, tudo misturado.
Partiram e como em todas as outras vezes, era só o começo!
Adriana ToRRe

ENTENDIMENTO

Para muitas situações falta entendimento.
Frases, gestos, músicas, poesias... tudo depende do momento e dos olhos do espectador.
Ela já ouvira tantas vezes: “Cada encontro é também uma despedida”.
O entendimento era restrito.
Mas naquela tarde, seu momento e seus olhos mudaram de direção e ela sofreu.
Tudo perfeitamente preparado pra ela. Tudo perfeitamente encaixado.
O plano estava traçado e foi colocado em prática da maneira ideal.
De novo no “mesmo lugar”.
Olhos nos olhos, um sorriso acolhedor, um abraço apertado e novamente entregues.
Todas as expectativas foram superadas. A tarde foi doce, sabor chocolate. A água beijou aqueles corpos.
Nada mais certo que o desejo que urrava pelos poros.
A conversa se estendeu. Ela se encantou com sua própria sede de palavras. 
Um filme lhe passou na mente em questão de segundos. Quisera ela, levá-lo consigo para sua torre e deliciar-se sem prazo, sem tempo.
Ela, que um dia anestesiada, desligou-se das sentimentalidades, dos sonhos passados, do seu objetivo um dia traçado.
Ela, que faz exatamente o que gosta de fazer, sofreu uma ausência que ainda não ocorria.
Saudade, ela sempre repete. Ele... ele nem sempre acredita.
O fato é que pra cada um, o mesmo contexto tem significados diferentes.
Ele a fez chorar e nem percebeu:  “o eterno ou o não dá”.
Já não faz diferença o entendimento. Tantas buscas por tantas respostas.
Quando começou?
E quando começou deste jeito?
Falta entendimento, sobre sentimento.
Falta entendimento, sobra vontade.
Falta entendimento, sobra vivacidade.
Falta entendimento, sobra sincronicidade.
Falta entendimento, sobra imaginação.
Falta entendimento, sobram os dois.
Pra que entender...? Se sentir tua falta me basta.
Adriana ToRRe

INESQUECÍVEL

Assim são alguns momentos das nossas vidas.
Não importa quanto tempo eles duram, importa que seja o suficiente para torna-se parte de uma história.
Ele prometeu durante todo dia “que seria pra ela”. Mas muitas circunstâncias movimentam nosso dia-a-dia e nem sempre tudo pode ser como queremos.
Ela afirmou que “eles podiam mais e mais e mais”.
Foi assim, ela sozinha no meio da multidão durante horas e ele montado em seu cavalo de São Jorge com um único destino.
Ela o queria muito e buscava seu rosto em tantos rostos que por ali estavam.
Já não havia mais tempo para os dois - ela pensava. Uma mudança muito grande e fundamentalmente importante havia ocorrido na vida dele. A rotina, os horários, os interesses, os sentimentos... tudo seria diferente, já não havia mais espaço para aqueles momentos apaixonantes anteriormente vividos – ela ainda pensava.
E como quem busca uma gota d’água no deserto ela invadiu-se de um oásis quando foi tomada pelos braços dele.
Narrar o que ocorreu daí em diante é algo desafiador.
Ela surpreendida por um braço envolvendo sua cintura, tão firme, que a fez parar de dançar. Os olhos vendados pela outra mão.
Não, ela não acreditara no que os seus sentidos diziam. Seria possível?
Não, não seria... mas também não seria impossível diante da avalanche de emoções que vinham tomando aquelas duas almas.
A mão dela escorreu pelo braço dele e simultaneamente ela reconheceu um pequeno objeto enquanto os lábios dele lhe perguntavam sobre a lua.
O coração disparou, as pernas estremeceram, uma invasão de alegria e bem estar contagiou o ambiente.
Ele a virou e ela num rompante, devorou-lhe.
Simples assim, complexo assim, segundos e uma eternidade lutavam entre si.
Novamente momentos constituidores da vida apaixonante.
Música, balançar, sorriso, olhar, toque, pele.
Pouco tempo depois a constatação da loucura, hora de partir, de deixar pra atrás aquilo que era dele.
Mas como? Se já sabiamente fora dito que os DISPOSTOS se atraem?
Quanta disposição de almas afins em caminharem juntas. Sabemos que tal caminhada seria possível sem a presença do outro, mas quanta diferença fez este feliz encontro.
E são justamente proporcionais a afinidade e a dificuldade em se despedirem.
Ela relutou, ele ainda mais. Ambos sabiam que era necessário.
Alguns passos aos arredores daquele ambiente e nada mais frenético e eletrizante do que a vontade de se teletransportarem ao lugar que era deles.
Longe da multidão, qualquer lugar era deles.
A despedida ocorreu e como quem deixa um pedaço de si partir, ela acenou e ele se foi.
Nostalgia... ela entrou em contato com sua causa.
A partir deste capítulo de vida apaixonante o que acontece é um desafio a qualquer narrativa.
Fiquemos com a idéia de que envelhecer tem lá suas vantagens: guardar por mais tempo os momentos inesquecíveis.
Adriana ToRRe

sexta-feira, 18 de março de 2011

ANESTESIA

Há tempos penso nisto.
Há tempos vivo isto.
E luto contra.
Eu sei exatamente quando começou. Foi naquela noite, onde a prepotência reinou.
Quem somos nós para acreditarmos em poder, especialmente no poder da opressão.
Domínio, posse, tirania. Lembrei-me de Calígula, imperador romano, o primeiro imperador a apresentar-se frente ao povo como um deus. Poucas fontes descrevem o seu reinado, nenhuma delas  se referem de maneira favorável, pelo contrário, centram-se na sua crueldade, extravagância e perversidade sexual, apresentando-o como um tirano demente.
Naquela noite, ele foi cruel. Ele era cruel em muitas oportunidades. Que pena, não precisava, era um sofrimento desnecessário a todos.
Diante disto, anestesiei-me buscando livrar-me da dor, mas não sabia que a anestesia era “geral”.  Efeitos sobre a dor foram poucos, mas sobre todo o resto – sentimentos – houve uma paralisia.
Deste então, custou-me a entender o que havia acontecido comigo. Tudo preto e branco. A vida sem cor, sem emoção.
Difícil explicar, mas viver anestesiado é viver na insensibilidade, nada te toca.
Anos de emoções dormentes e agora, escrevendo estas palavras tenho dimensão que me anestesiei para não sofrer e acabei por sofrer ainda mais bloqueando os sentimentos.
Anestesiar-se pode parecer o caminho mais rápido para eliminar uma dor, mas garanto que não é o melhor por uma razão bem simples: não se conhece os efeitos colaterais.
Sem lágrimas externas, mas também sem sorrisos na alma.
Foi assim durante muito tempo e quando entendi que era eu quem dava a intensidade e a duração da anestesia, comecei a livrar-me dela, vagarosamente.
Permiti-me olhar para os “momentos apaixonantes” que a vida apresenta. E olhando percebi que de momento em momento a vida é toda apaixonante. Eu sabia disto, sempre soube, mas adormeci.
Descrever a avalanche de sentimentos e sensações que me tomam é impossível, as cores ainda estão embaçadas, mas há um colorido.
Olha pra você! E assim as cores vão ficando mais nítidas.
Olha pra você! Olha pra você!
Estou olhando... obrigada.
Adriana ToRRe

A VERSÃO DELA

O transe pode ter acabado, mas não os momentos apaixonantes, estes estavam apenas começando.
Ela tinha razão, o destino havia agido de modo correto, não seria possível – os dois juntos – tanto tempo, todos os dias. Nada acontece por acaso, não resistiriam.
Mas o destino tem dessas coisas, é como tem que ser... dá voltas e nos leva pro lugar que era nosso, desde a primeira escolha. Assim, os levou pra perto, um do outro.
Dizer quando tudo começou é uma tentativa inútil.
Afinidade sempre existiu, desde o primeiro contato, mas eles nem imaginavam o que aconteceria anos depois. Cada um cursou o rumo que seus planos permitiram e lá na frente... sabe a palavra mágica - reciprocidade – se fez presente, em palavras escritas ou faladas, nos menores gestos.
Ainda assim eram apenas bons amigos. Mas o destino, se é que assim que podemos chamar essa força que move, que impulsiona, que faz tudo girar, nos coloca a prova todos os dias. Você pode até fugir dele, mas ele vai ao seu encalço e mexe com tudo que tem de mais inteligente e mais equilibrado dentro de nós.
Eles não programaram nada, mas tudo era recíproco.
Um pouco de conversa, uma permissão maior pra dizer um pouquinho daquilo que sentiam, foi suficiente para que aquelas palavras que antes eram jogadas ao ar, se encaixassem e trouxessem uma oportunidade pra eles. Era só isto que eles precisavam: uma oportunidade... e ela veio.
Mais uma vez o destino? O acaso? Não, simplesmente era pra ser assim.
Tudo foi como tinha que ser: o cheiro, o contato, o esvoaçar dos cabelos, os passos, o balançar dos corpos... a música. “Ta vendo aquela lua que brilha lá no céu. Se você me pedir eu vou buscar só pra te dar”. Ela cantava pra demonstrar o quanto o impossível se faz possível quando se deseja realmente algo. A negativa foi apenas mais um, entre tantos outros tiros certeiros... tudo se encaixava.

Ela sabia que ele queria, estava no olhar, no gesto de carinho. Ela sabia, mas precisava deixar ser espontâneo, pra que nada estragasse aquele momento especial.
Se ele se encheu de si mesmo, como quem anda plenamente por uma selva, sem se importar com os animais perigosos... Ela sentiu-se cortejada. Mas em alguns momentos uma dúvida lhe assombrava: Será? Será que ele quer? A dúvida se foi quando o transe chegou.


Ela sabia e agia de modo sutil e feroz só pra que ele pedisse arrego. Mas ele mantinha-se firme e ela queria tanto... e ele se contendo. Isto fez parte do jogo, de tudo o que tinha que ser.
Após o transe, nada mais foi igual. E aquilo era só o começo.
Olhando lá pra trás, ela nunca sentiu-se tão segura de si, nunca investiu desta maneira. Foi um investimento descontraído, descompassado, sem grandes pretensões.
Muitas foram as músicas que traduziam o que eles sentiam, frases populares, contemporâneas ou antigas. Cada música uma frase, cada frase um significado e em todo significado... reciprocidade. Ela sabia o que ele queria e ele sabia o que ela queria. Estava nos olhos de cada um, que por pouco tempo se fixavam. O olhar dele fugia do dela, mas o dela ia a sua busca.
O olhar dela buscava onde tudo começou e porque tudo começou ou então porque tudo iria começar?
O olhar dela tinha brilho sim, mas era um brilho irradiado de uma luz que vinha de outrem. O olhar brilhava de alegria, porque mesmo que tudo acabasse ali, que tudo parasse naquele momento, já teria valido.
Mas o destino, ah o destino, não ia permitir que tudo parasse ali, eles ainda fitaram, desejaram, em transe ou fora dele, estava tudo estampado.
Ah se ele soubesse como ela se deliciou com tudo aquilo. Nunca tinha vivido algo tão encantador. Nada de extraordinário aconteceu, mas encantamento tem dessas coisas, está na simplicidade, naquilo que é singelo.
Não há duvidas, o plano está traçado!
Adriana ToRRe