sexta-feira, 18 de março de 2011

ANESTESIA

Há tempos penso nisto.
Há tempos vivo isto.
E luto contra.
Eu sei exatamente quando começou. Foi naquela noite, onde a prepotência reinou.
Quem somos nós para acreditarmos em poder, especialmente no poder da opressão.
Domínio, posse, tirania. Lembrei-me de Calígula, imperador romano, o primeiro imperador a apresentar-se frente ao povo como um deus. Poucas fontes descrevem o seu reinado, nenhuma delas  se referem de maneira favorável, pelo contrário, centram-se na sua crueldade, extravagância e perversidade sexual, apresentando-o como um tirano demente.
Naquela noite, ele foi cruel. Ele era cruel em muitas oportunidades. Que pena, não precisava, era um sofrimento desnecessário a todos.
Diante disto, anestesiei-me buscando livrar-me da dor, mas não sabia que a anestesia era “geral”.  Efeitos sobre a dor foram poucos, mas sobre todo o resto – sentimentos – houve uma paralisia.
Deste então, custou-me a entender o que havia acontecido comigo. Tudo preto e branco. A vida sem cor, sem emoção.
Difícil explicar, mas viver anestesiado é viver na insensibilidade, nada te toca.
Anos de emoções dormentes e agora, escrevendo estas palavras tenho dimensão que me anestesiei para não sofrer e acabei por sofrer ainda mais bloqueando os sentimentos.
Anestesiar-se pode parecer o caminho mais rápido para eliminar uma dor, mas garanto que não é o melhor por uma razão bem simples: não se conhece os efeitos colaterais.
Sem lágrimas externas, mas também sem sorrisos na alma.
Foi assim durante muito tempo e quando entendi que era eu quem dava a intensidade e a duração da anestesia, comecei a livrar-me dela, vagarosamente.
Permiti-me olhar para os “momentos apaixonantes” que a vida apresenta. E olhando percebi que de momento em momento a vida é toda apaixonante. Eu sabia disto, sempre soube, mas adormeci.
Descrever a avalanche de sentimentos e sensações que me tomam é impossível, as cores ainda estão embaçadas, mas há um colorido.
Olha pra você! E assim as cores vão ficando mais nítidas.
Olha pra você! Olha pra você!
Estou olhando... obrigada.
Adriana ToRRe

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