quinta-feira, 1 de setembro de 2011

UM NOVO OLHAR

Na vida, períodos de recuo são essenciais ou simplesmente acontecem . Eles nos forçam a enxergar a situação sob outro ponto de vista.
Distanciarmos-nos do que nos importa e sentir o que esse redimensionamento nos causa as vezes é nossa única saída.
 A retomada nunca é a mesma: ou nos faz enxergar a placa de "rua sem saída" que teimávamos em não ver ou, feito polimento em prata, devolve o brilho ao que o tempo havia ofuscado.
 Talvez por isso alguns casais só se entendam depois de uma separação: a dor, a sensação de ficar sem chão, não ter mais ali ao lado quem se ama, pode provocar verdadeiros milagres na dinâmica de uma vida em comum.
 Mas não podemos contar com milagres, precisamos da razão.
É só dando um pequeno mergulho na solidão que compreendemos o valor do que nos rodeia e mora dentro de nós.
Distanciar-se deveria ser uma tarefa cotidiana: evitaria que fôssemos sugados pelo redemoinho que sempre começa logo ali nos nossos pés, mas estamos ocupados demais pra ver.
Absolutamente nada é imprescindível. Nem ninguém. Aprendi isso a custa de muito choro.
Quando algo começar a te surtar, use a técnica dos grandes admiradores de arte: recue diante da tela, mude de ângulo em relação a ela, observe as cores, os traços e os detalhes que, na correria, sempre passam despercebidos. Então notará que ela é muito mais do que aquele ponto preto que ficava, insistente, diante dos seus olhos.
Porque ser feliz, no final das contas, não é questão de sorte ou azar. É questão de perspectiva.

Carol Furtado